sábado, 30 de março de 2013

Você já viu algo assim?


Esta árvore, perto do Estádio do Pacaembú (São Paulo), morre lentamente, sufocada por uma parasita conhecida popularmente como erva-passarinho ou erva-de-passarinho.

São assim chamadas porque os pássaros se alimentam dos seus frutos e depois espalham as sementes por outras copas de árvores ou pelo chão.
Elas dão flores perfumadas e quando passam a dominar a copa da hospedeira, parecem chorões, com seus ramos longos e caídos. Isso leva muitas pessoas a não perceberem o que está acontecendo na realidade, confundirem-na com a copa original e conjuntos inteiros de árvores são perdidos dessa maneira.

Àrvore na Av.Pacaembu, infestada com a erva-passarinho
Esse mesmo nome popular designa várias plantas escandentes (trepadeiras) da família Loranthaceae. São consideradas semiparasitas porque obtém seu alimento em parte da seiva da árvore infestada, e em parte da fotossíntese das próprias folhas. Fazem parte de nossas matas. Mas por algum motivo ainda não conhecido, no seu habitat natural não chegam a se estender por grandes áreas. Já em locais de mata degradada e nas cidades causam grandes estragos. Especula-se que na mata talvez não sejam o alimento preferido dos pássaros. Ou outro fator seria o quanto nossas árvores urbanas ficam enfraquecidas por maus-tratos constantes.

Detalhe dos ramos da parasita se enroscando no galho de Resedá

Na foto acima vemos um galho de Resedá que foi podado para combater a infestação. Os ramos da parasita se enroscam em torno dele, dão folhas e se lançam para alcançar novas árvores por perto.
Algumas variedades da erva-passarinho se alojam direto  nas copas. Outras começam pelo chão, lançam raízes no solo e depois vão subindo, perfurando a casca e se alimentando da seiva. A única forma de combate conhecida é cortar os ramos atingidos. Se isso não for possível porque comprometeria a própria estrutura da árvore, então retirar o máximo possível, raspar os ramos maiores com muito cuidado e repetir o processo quantas vezes for necessário.  Por que ela é muito resistente e qualquer pedacinho mínimo que sobra, rebrota. A única vantagem (para nós!), é que seu ataque é lento. Portanto a observação é nossa melhor arma para combate-la em seu início. E estenda o olhar para sua rua a arredores. Não se esqueça:  a natureza não liga a mínima para muros e limites de lotes!

Informações técnicas:

sexta-feira, 15 de março de 2013

A Horta no Condomínio


A ideia de implantar uma horta surgiu na primeira reunião conjunta. Havia uma área subaproveitada como playground. Porque não usá-la como espaço de integração entre os condôminos e de incentivo a uma melhor qualidade de vida?
A horta cumpre esses objetivos.

Com uma estrutura simples e de fácil acesso a todos, e com a escolha de legumes, temperos, verduras e frutos de manejo básico, se torna um ponto de troca de experiências, de combate ao stress, de aprendizado prático sobre os ciclos naturais.
E nada melhor que um manjericão fresco para aquele molho no domingo...

Gostou da ideia? Não é difícil, mas alguns pontos têm que ser planejados em conjunto:

1) Neste tipo de projeto coletivo sempre existe um tanto de experimentação. Quais legumes, temperos, verduras se desenvolverão melhor? Quais serão mais usados pelos moradores?

2) Procure uma área que receba sol direto por no mínimo seis horas diárias. Isso é fundamental para qualquer horta. Sem sol não é possível. E não se esqueça da água. Há uma torneira próxima ao local? É interessante que ela fique a uns 30cm de altura (ou mais) para facilitar tanto a rega quanto a primeira lavagem do que for colhido. Se for um tanque, perfeito.

3) Nessa mesma área, qual a profundidade da terra? É sobre laje? Se for, o canteiro terá que ter paredes mais altas. Na verdade é sempre mais interessante trabalhar com canteiros altos. O manejo é mais fácil, a drenagem melhor, até o controle da qualidade da terra. 

4) É melhor começar com uma seleção de temperos e chás de cultivo fácil e que todos usam.  Alecrim, manjericão (verde, roxo, gigante...), salsinha, cebolinha, coentro, manjerona, pimentas,  hortelã, capim-cidreira (também conhecido por capim-limão) agradam todo mundo. Couve-manteiga? Outra opção fácil. Depois, com a prática, podem entrar legumes e frutos, como abobrinha, chuchu; berinjela, tomate, alfaces; nabos, cenouras, erva-doce, e por aí vai...

5) Pesquisar quanto cada espécie “dura”; como e quando devem ser plantadas e colhidas. Comece plantando mudas. O resultado é mais rápido e bonito; e o entusiasmo coletivo é maior. Lembre-se: nem todos têm a mesma paciência. Depois podem ser introduzidas sementeiras, o plantio a partir das sementes, que exige mais técnica e várias etapas de cultivo.

6) Muito importante: quem vai ser responsável por quais cuidados? Em resumo, se a horta é bem básica e plantada a partir de mudas, os cuidados são: rega diária, retirada de plantas invasoras (o “mato”) semanal e adubação (que pode ser quinzenal ou mensal, dependendo das espécies escolhidas).

7) MAIS IMPORTANTE AINDA:  em caso de ataques de insetos, meu conselho e aviso é NÃO usem qualquer tipo de inseticida ou defensivo. Isso deve ficar claríssimo para todos os moradores. Há no mercado alguns poucos inseticidas biológicos que só são venenosos para o inseto alvo. Mas não devem ser confundidos com inseticidas de uso doméstico, naturais, “ecologicamente corretos”, “não agressivos ao meio-ambiente”, tradicionais, etc...Todos esses termos são válidos, mas não significam que são inofensivos para pessoas e animais. Ou seja, como exemplo, a calda de fumo é menos agressiva ao meio-ambiente e rapidamente se degrada, praticamente não deixando resíduos. Mas ela contém elementos tóxicos para pessoas e animais, como a nicotina e o alcatrão. E em uma horta comunitária, acessível a todos, como ter 100% de certeza que todos esperarão o período indicado antes de ir pegar umas folhinhas que foram pulverizadas?

8) Como evitar que os insetos ataquem? Bom, você não vai conseguir evitar totalmente, mas pode controlar através da variedade de espécies e do uso de técnicas naturais, como sementes de gergelim para combater formigas cortadeiras e mudas de sálvia e lavanda aqui e ali, no meio do canteiro para afastar outros insetos. Cascas de melancia e melão emborcadas atraem as lesmas durante a noite e de manhã as danadas podem ser catadas manualmente. Mantenha um controle adequado da umidade, ventilação e insolação para evitar fungos. E planta bem nutrida (adubada corretamente) é mais resistente a qualquer tipo de ataque. Pesquisar faz parte da diversão!

Os tipos de canteiro são variados. Depende do espaço à disposição, da verba, do tempo disponível para cuidar de tudo, da arquitetura ao redor.

Como acabamos de executar uma simpática horta em um prédio (aquela da reunião que citei no começo do texto) vou explicar como os canteiros foram feitos.

O terreno indicado tem uma boa insolação. Ótimo. Mas é sobre laje e encharca fácil. Além disso,  é sempre importante lembrar do conforto das pessoas que vão usufruir ou cuidar da horta. Juntando os três pontos, montamos as paredes dos canteiros com duas fileiras de blocos de cimento, sem nenhuma massa. Ou seja, o espaço entre os blocos permanece livre para escorrer o excesso de água. Nas paredes internas, antes da terra, colocamos bidim (manta de drenagem), para que apenas a água escorra e não a terra. Atenção, o bidim não cobre o fundo do canteiro, só as paredes. Ele "gruda" nas asperezas do bloco e conforme a terra é despejada, fica no lugar. Com essas duas fileiras de blocos chegamos a uma altura de 38cm, o que facilita os cuidados e a colheita, porque não é necessário que ninguém fique agachado ou nem mesmo se abaixe muito. Os canteiros podem ter o cumprimento que acharem interessante, mas nunca mais de 1m de largura. Isso vale mesmo para canteiros no chão, porque assim as plantas são alcançadas sem ninguém precisar entrar no canteiro.


Notar os blocos, somente montados, e o bidim. Nossos jardineiros plantam
as mudas e depois recortam o excesso de bidim.
Se houver cadeirantes e/ou pessoas que têm algum problema de locomoção, deixem no mínimo  90cm entre os canteiros. 

Outro aspecto interessante do sistema usado aqui, é que permite futuras alterações sem desperdício de material. Também dentro da mesma ideia de não desperdício, pegamos alguns vasos meio largados pelo cantos e pintamos em cor cerâmica. Um toque informal no conjunto...


Após um mês de sua execução, aqui esta a horta em plena produção.
Ao final, houve uma reunião de apresentação da horta. Foi um trabalho muito gostoso de executar, com todos curiosos "dando uma passadinha", trocando uma conversa...e tenho recebido ótimas notícias sobre o quanto os condôminos têm aproveitado! Cumpriu seu objetivo principal de reunir as pessoas em torno de um projeto positivo. 


domingo, 19 de julho de 2009

O blog do e-jardim

Na minha lista de links recomendados, há um que eu considero especial: HTTP://e-jardim.blogspot.com . O trabalho da equipe do e-jardim é muito interessante e valioso. Além de produzirem, e, portanto, preservarem inúmeras plantas nativas, eles se preocupam com a pesquisa e com a educação do público em geral... e também dos paisagistas! Os textos no blog e no site (http://www.e-jardim.com/) são ótimos, com muita informação e divertidos de ler.

Por exemplo, acompanhe a sequência de artigos abaixo:

Na trilha de Glaziou: a redescoberta da guaquica (parte 1)


Você vai gostar!

sábado, 18 de julho de 2009

A iluminação do jardim


Para um jardim ser apreciado e utilizado à noite é óbvio que precisamos da iluminação artificial. O que poucos percebem, é o quanto o uso correto (e criativo!) da luz artificial pode determinar a segurança e eficiência das áreas externas e, também, valorizar-las esteticamente.

Algumas regrinhas básicas:

· O jardim iluminado à noite não deve nem precisa ser igual ao jardim de dia! Iluminação de quadra esportiva...só em quadra esportiva!

· Determinar o uso noturno de cada área do jardim, lembrando que a segurança se aplica tanto em evitar um intruso quanto em evitar que alguém se machuque.

· Observar as áreas ou elementos do jardim que estão mais bonitos no momento e destacá-los.

· Evitar o ofuscamento do observador, pelo foco dirigido direto na altura de seus olhos.

· Caprichar nos cuidados com a fiação. Os fios que passam por entre canteiros devem estar em perfeitas condições, dentro de conduítes e serem enterrados para evitar tropeções. É muito interessante que se anote o caminho dessas fiações enterradas, para indicá-lo aos jardineiros. Acidentes e consertos são evitados dessa maneira simples. Ah, e os conduítes devem ter suas aberturas isoladas (fechadas).

· Organize a fiação agrupando as luminárias por tipo e/ou zona, tornando possível que cada grupo seja acionado de modo independente. Isso aumenta a economia na conta de luz e maximiza as opções de utilização da iluminação.

· Observar o quanto as luminárias esquentam e se esse calor está queimando as plantas próximas.

· Muito importante: usar sempre luminárias e lâmpadas produzidas para áreas externas. Somente essas terão condições de resistir à umidade, terra, etc... Sim, são mais caras de início, mas mais econômicas a médio prazo.

Costuma-se agrupar os aparelhos de iluminação externa em três tipos básicos. O primeiro tipo é o difusor. Ele emite luz por todos os lados, como no caso dos postes encimados por globos de vidro. Sua luz é homogênea, iluminando por igual todo um ambiente, e, em geral, está fixa sobre um poste ou na parede.

Outro tipo é o projetor. Ele emite um facho de luz dirigido, mais ou menos concentrado. São também chamados de refletores. Criam contrastes de claro e escuro, e destacam objetos ou áreas. Pode ser fixo ou móvel.

O terceiro tipo é o balizador, que na verdade é um refletor com características específicas para a iluminação de áreas de circulação. Essas características: facho dirigido para o chão, altura reduzida (sempre inferior a 50cm) e pequena intensidade de luz. São encontrados fixos ou móveis.

Um exemplo de utilização desses equipamentos.

Na entrada, onde termina a rua e começa o jardim da frente, é uma boa medida de segurança, um poste com uma luminária tipo difusor, de média intensidade. Assim enxergamos bem quem está se aproximando da casa. Segue-se por três metros de um caminho de pedras e uma escada com poucos degraus, largos, que se tornarão muito atrativos e seguros com pequenos balizadores embutidos nas laterais da escada. A escada termina na porta da casa, que fica sob um arco. Um projetor delicado fixado no alto desse arco ilumina a porta de cima para baixo. Agora, não vamos nos esquecer de iluminar o número da casa! Podemos usar variados tipos de luminárias ornamentais fixas, que iluminam uma pequena área da parede, sem emitirem luz direta para os olhos do observador.

No jardim, difusores criam uma área de luz homogênea e suave no terraço. Projetores ocultos pela vegetação lançam luz direta sobre uma fonte, ou destacam um conjunto de palmeiras e arbustos. Aliás, na época de seca, com forrações e gramados sofridos, pode-se usar os refletores para atrair os olhares para os pontos fortes do jardim e ocultar os pontos fracos.

Por isso eu sempre recomendo que se dê preferência a refletores e balizadores móveis e com extensa fiação. Em uma festa, por exemplo, passeios no jardim podem se desestimulados deixando as luzes mais perto da casa; ou, ao contrário, levamos os convidados ao jardim criando focos de interesse e usando fartamente balizadores para indicar caminhos entre os canteiros.

Some a essas opções as tochas, velas (inclusive flutuantes, para piscinas e fontes) e lanternas em mil formas e estilos...e transforme seu jardim!

terça-feira, 30 de junho de 2009

Esse hibisco parece com a groselha do CEAGESP!

Perguntaram (off-line) se o Hibiscus sabdariffa (o medicinal) é a mesma planta chamada no CEAGESP de groselha e vendida cortada, para compor lindos arranjos com seu tom especial de vermelho. É sim, é a própria. Porque groselha? Provavelmente pela cor...
Para não deixar margem a dúvidas, esta é a groselha verdadeira, a Ribes sanguineum, e suas frutinhas:












E este é o Hibiscus sabdariffa, ou “groselha”, ou “vinagreira”:







Cada uma com sua beleza própria...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Livro sobre a vida e obra do Prof. Amaro Macedo



Fiquei muito contente em saber do lançamento deste livro sobre o Prof. Amaro Macedo, naturalista mineiro que com paixão e talento contribuiu para o resgate e registro de nossa flora.
Abaixo segue o comunicado que recebi de sua filha, Maria do Carmo:

"O livro "Amaro Macedo - o solitário do cerrado" terá lançamento, agora em maio, em Ituiutaba , no Triângulo Mineiro, quando Amaro fará 95 anos.
         Quem é Amaro Macedo? O livro mostra a trajetória de vida deste naturalista mineiro, um grande coletor de plantas, principalmente do cerrado, do século XX.  
         Conta como conheci Amaro, a vida dele escrita pela filha Maria do Carmo, e ele como naturalista.
         Entre 1943 e 2007, coletou 6008 espécies, a maioria delas de espécies de plantas dos cerrados. Coletou por Minas Gerais, Goiás e outros estados brasileiros. Os exemplares estão espalhados pelos herbários do mundo todo. Um exemplo: na década de 60 ele doou ao herbário do Instituto de Botânica de São Paulo 1723 exsicatas!
         Várias das espécies que coletou foram descritas como espécies novas, sendo que cerca de 50 delas receberam o nome de Amaro Macedo, como homenagem de botânicos famosos, como Rizzini, Brase, dona Graziela, Lyman Smith, Hoehne, Robinson, Swallen, Burkart, Legrand, entre outros. 
         Amaro em suas viagens escrevia relatos, o que me lembra os de St. Hilaire. O livro transcreve alguns deles: além de falar das plantas, ele fala e comenta tudo, o meio ambiente, as cidades visitadas, transporte, as praias dos rios, os rios, as festas populares, crendices, as comidas regionais, os hábitos das pessoas, tudo ilustrado com fotos tiradas por ele. A famosa Pedra Goiana, que ilustra a capa do livro, é visitada e descrita. O livro resgata assim a trajetória de um grande naturalista. E fala e mostra uma parte do Brasil que mudou muito.
Gil Felippe"

Maiores informações no site http://www.atelie.com.br/.

O público em geral não imagina a paciência, persistência, sacrifício e mesmo coragem envolvidos no trabalho dos naturalistas. Obrigada, professor, e feliz aniversário!
 

domingo, 19 de abril de 2009

Os surpreendentes hibiscos

O hibisco é uma planta injustiçada! E por quê? Porque se adapta fácil demais? Floresce generoso e sem frescura em qualquer canto ensolarado, só com uma chuva de vez em quando...? Ou será porque a maioria só se lembra das variedades mais simples de hibiscus rosa-sinensis, nas cores rosa ou vermelho, da brincadeira de “tirar a saia da rainha”, arrancando suas pétalas, ou de beber seu néctar doce quando éramos crianças? O excesso de familiaridade deu-lhe a reputação de flor comum, vulgar, e o paisagista que sugere seu uso tem que ter um discurso pronto e muitas fotos para tentar convencer o cliente...
Vocês não sabem o que estão perdendo! Além de abranger muitas espécies, sua facilidade de hibridação permitiu a criação de milhares de variedades. Depois de ver as fotos deste texto, não deixe de conferir os sites indicados para ter uma idéia do que quero dizer com “variedade”...























Imagine, por exemplo, estes lindos hibiscos dobrados, amarelo ou vermelho vivo, contrastando com uma parede azul. Ou estes mini-hibiscos na floreira de seu quarto, mudando de cor durante o dia...

                              


















E a delicadeza do Mugunghwa, a flor símbolo da Coréia do Sul:  

                                        

No Nordeste a chamada “vinagreira” (Hibiscus sabdariffa) é alimento e remédio. O famoso chá de hibisco é dessa variedade. Veja a foto abaixo, a direita.

Os hibiscos ornamentais são arbustos em sua grande maioria perenes. Adoram o calor, sol e umidade, sendo uma das poucas plantas floríferas que eu coloco em situações extremas como piscinas aquecidas com cobertura de vidro.
Os portes são diversos, incluindo variedades mini. Mas a grande maioria tem porte de 2m a 4m. Formam cercas-vivas maravilhosas, que fecham com facilidade na primavera-verão e atraem muitos beija-flores. Gostam dos solos arenosos dos litorais e suportam (com menor florescimento) o frio do sul do Brasil. Também podem ser podados como arvoretas, e se adaptam a vasos e floreiras de tamanho adequado.

Quanto à adubação, nada muito misterioso. Se você puser no Google “adubação de hibisco” vai encontrar recomendações de adubação a cada 20 dias, dois meses, seis meses, um ano...É que a planta é tão rústica que fica difícil dar errado e cada profissional tem sua receita para dar “mais certo”. Então eu também passo a minha... No caso de vasos e floreiras recomendo adubação química leve (ler a recomendação na caixa para o seu tamanho de vaso ou floreira, e colocar metade) a cada 30 dias na primavera, verão e outono, com N.P.K. 04-14-08. (contém 4% de (N) Nitrogênio, 14% de (P) Fósforo e 8% de (K) Potássio). O Fósforo (P) estimula a floração. Uma vez por ano, de preferência no começo de setembro, renove a terra do vaso, misturando-a com terra adubada organicamente. Se o hibisco estiver plantado no jardim, duas adubações orgânicas por ano são suficientes!
Enfim, visite os links e se encante com as possibilidades dos hibiscos. Para fechar, que tal o "5ª dimension", que começa o dia em tons rosa-arroxeados e termina em amarelo e branco? 






segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Tipos e usos de cercas-vivas

Muitos paisagistas, ao começarem a aprender seu ofício, escutaram de seus professores que os elementos vegetais, segundo seu uso, podem ser comparados à estrutura de uma casa: as forrações formam o piso, os troncos lembram colunas, copas e pérgulas nos recobrem como tetos e os arbustos fazem o papel de paredes.

Pois essa é uma boa maneira de pensarmos sobre as cercas-vivas. O primeiro passo para a escolha adequada é definirmos o que queremos dessas “paredes verdes”. 

Na foto ao lado, uma cerca-viva sofisticada e bem-cuidada delimita e protege a entrada da casa. Para ocultar a área mais vazada junto ao solo, uma fileira de buxinhos dá o acabamento.

E na foto abaixo vemos um jardim francês (Manoir d'Eyrignac) com aplicação da topiária na formação das  cercas-vivas. Repare nos arcos e janelas.   

       Neste artigo vou comentar sobre suas possíveis funções e dar algumas sugestões de espécies mais apropriadas.

             Uma cerca-viva sempre supõe vedação, barreira ou limite de algum tipo. Se o que queremos é uma vedação visual, sem preocupação com segurança, temos uma grande variedade de opções. Podemos conseguir uma vedação boa com arbustos de folhagem densa, que não permitem que nenhum dos “lados” da cerca veja o outro. Consegue-se isso com buxinho, murta, azaléia, tuias, bambu e mesmo com trepadeiras vigorosas, como as tumbérgias e alamandas. Claro que neste caso o plantio deve ser bem adensado e as podas cuidadosas, para não deixar buracos. Se quisermos uma vedação visual unilateral, ou seja, queremos ter luz e alguma visão, mas mantendo uma sensação de privacidade vistos, podemos usar novamente o bambu, mas neste caso escolhemos o bambuzinho (Bambusa gracilis), e também nandinas, ou trepadeiras como madressilvas e heras. O plantio deve ser menos denso e a espessura da “parede verde” deve ser menor. 

O bambu terá de ser mantido com podas freqüentes, não na altura, mas retirando-se os brotos novos que saiam do limite de espessura desejado. Aqui vale um alerta: a vedação visual mais leve para evitar, por exemplo, que uma janela fique devassada, ás vezes funciona ao inverso à noite, com o ambiente interno iluminado e bem visível em contraste com a escuridão externa. Em termos de privacidade é o pior tipo de situação. Comparando com a “casa” do começo do texto, ela deixa de ser parede ou persiana para funcionar como uma cortina sem forro!

   A esquerda um lindo exemplo no Japão, com o bambú mossô combinado à cerca de junco seco. É uma cerca-viva que se move ao vento, delimita as proprieda des e sombreia o caminho.

 Duas considerações importantes: ao escolher uma planta para vedação, tenha certeza sobre a sua estrutura quando adulta e respeite as indicações de cultivo. Muitas plantas que parecem arbustos quando jovens, adquirem a forma de árvores quando adultas, e a região mais baixa do tronco não se presta para vedação visual. Fica vazada. E se a planta não receber a insolação, irrigação ou adubação adequadas, não vai atingir o desenvolvimento que você esperava. 

               As trepadeiras são excelentes para vedação, crescendo e preenchendo os espaços com grande rapidez. Mas, como o próprio nome indica, necessitam de algo para se apoiarem. Dependendo do que vai servir de apoio, elas podem ser usadas quando se necessita aliar segurança e beleza. Um gradil de ferro simples pode ser um tanto pesado e agressivo. Mas com o “rendilhado” de uma bela trepadeira florida dá para a gente esquecer que está enjaulada!

E assim chegamos a mais uma função das cercas-vivas: delimitação e proteção da propriedade. Precisamos dimensionar o perigo e a propriedade! A idéia geral é utilizar grandes arbustos, que permitam plantio adensado, tenham folhagem desde o chão e, se possível, espinhos. No caso das áreas rurais se usa muito o cipreste e o sansão do campo (que inclusive tem espinhos), mas é duvidoso o quanto de resistência uma planta pode oferecer a alguém decidido e num lugar solitário! Agora, claro que desencoraja invasões e, em termos de paisagem, cria uma barreira psíquica, visual e até auditiva que pode ser muito relaxante.

 Nas cidades podem ser usados ciprestes, tuias e murtas, mas como esperar até que alcancem  tamanho e densidade adequados para o quesito segurança? Um bom muro coberto por primaveras lindas e cheias de espinhos ou um gradil disfarçado por arbustos e trepadeiras são provavelmente soluções mais viáveis para nós, habitantes assustados das grandes e médias cidades! Outro alerta: sabe aquele seu simpático cão-de-guarda? Pois é, ele pode escapar cavando a terra por baixo da cerca-viva. Portanto, neste caso também temos que complementar as plantas com uma cerca, gradil ou placas que afundem uns 30 cms no terreno.

 Agora, se você é o sortudo morador de um lugar tranqüilo, aproveite enquanto pode e use belas cercas-vivas para delimitar sua casa. Use jasmim-do-cabo (Gardênia jasminoides), ocna (Ochna serrulata), ligustro (Ligustrum sinense), alpínias, buquê-de-noiva (Spiraea cantonienses), ixora coral (Ixora coccínea), e muitas outras! E me mande o endereço...


O plantio de espécies nativas

Muitas pessoas gostariam de viver a experiência de recuperar uma área degradada, acompanhar a transformação de um descampado em um bosque com árvores nativas, com muitos pássaros e, quem sabe, alguns outros dos nossos animais silvestres...

Em uma escala pequena e sem intenções comerciais é possível plantar bosques nativos a partir de uma orientação básica e alguns cuidados simples de manutenção nos primeiros anos. Para projetos maiores e mais ambiciosos (e que sejam bem-vindos!) é imprescindível o acompanhamento de um profissional, seja agrônomo, seja um paisagista com experiência específica.

Mas como é que a natureza recupera áreas desmatadas? A intenção da natureza é recriar a floresta, em um processo chamado “sucessão secundária”, e que pode levar de 30 a 60 anos. Vamos imaginar uma área devastada pelo fogo e pelo uso do solo para plantio. Se ela ficar abandonada, vão surgir as “ervas daninhas” (herbáceas anuais) durante os 3 primeiros anos; logo em seguida vem as herbáceas perenes e os arbustos perenes. Aqui cabe uma observação: quando um terreno é deixado abandonado, só recebendo uma ou duas capinadas por ano, o que se está fazendo é interromper o processo natural e (para piorar) “criando” ervas-daninhas anuais, cujas sementes serão levadas pelo vento, chuvas e animais para os terrenos, plantações e jardins vizinhos. Por isso é sempre melhor dar algum uso à terra.

Depois de um período em torno de 6 anos começam a surgir certos tipos de árvores, que são denominadas espécies pioneiras. Elas vão continuando o processo de recuperação, crescendo e sombreando a área. Havendo sombreamento suficiente começam à germinar e crescer as espécies secundárias e , terminando o processo, brotam e se desenvolvem as espécies clímaxes.

E de onde surgem essas diferentes espécies? De sementes vindas de florestas próximas, trazidas pelo vento, chuvas ou animais, e também de sementes adormecidas no solo. Quanto mais bosques e florestas existirem, mais fácil e rápida é a regeneração de novas áreas.

Mas o homem pode apressar muito esse processo (e como somos impacientes!), completando-o em 10-15 anos. Podemos plantar de uma só vez quase todas as espécies dos três estágios. Mas atenção quanto às seguintes observações:

 

  1. Coloque as espécies climaxes junto de duas (ou mais) outras mudas das espécies pioneiras e secundárias, que irão se desenvolver mais rápido e criar o sombreamento necessário.
  2. Leve em consideração o porte adulto das plantas, evitando a proximidade entre duas espécies de porte muito grande. De modo geral use um espaçamento de 3m x 4m entre as covas.
  3. É aconselhável adicionar-se fósforo às covas, ou, no caso de solo muito esgotado, material orgânico e outros elementos necessários. Vale a penas fazer uma análise do solo.
  4. Nos primeiros dois ou três anos são necessárias algumas capinas em torno das árvores e eventualmente o combate às formigas. Não faça podas! Deixe as árvores se desenvolverem naturalmente.
  5. Procure diversificar, misturar várias espécies. Se possível, descubra quais espécies são nativas da sua região.

 A seguir uma lista com algumas espécies, divididas segundo o processo de sucessão secundária.

 Eu focalizei as nativas de mata atlântica, por serem as mais pedidas quando o assunto é recuperação de matas. Os nomes com asterisco são daquelas árvores mais comumente conhecidas, para tirar um pouco do aspecto “assustador” de tantos nomes em latim. Entre parêntese, um ou dois (entre muitos...) nomes populares.

Espécies Pioneiras:

 Acácia polyphylla (monjoleiro)

Acrocomia aculeata (macaúba)

Alchornea glandulosa (tapiá)

Alchornea triplinervia (tanheiro)

*Bauhinia forficata (pata-de-vaca)

Casearia sylvestris (guaçatunga)

*Cecropia pachystachya (embaúba)

Croton urucurana (urucurana)

Croton floribundus (capixingui)

Erytrina crista-galli (sananduva)

Guazuma ulmifolia (mutambú)

*Ingá uruguensis (ingá-do-brejo)

*Lithraea moleaides (aroeira branca)

Machaerium aculeatum (pau-de-angú)

Machaerium nyctitans (guaximbé)

Ocotea puberula (guaicá)

*Psidium guajava (goiaba-branca)

Rapanea ferruginea (azeitona do mato)

Schinus terebinthifolius (aroeira-mansa)

Schizolebium parahyba (guapuruvu)

Sebastiania commersoniana (branquilho)

*Senna multijuga (pau-cigarra; canafístula)

Tapirira guianensis (fruta-de-pombo)

*Tibouchina mutabilis (manacá-da-serra)

Trema micrantha (grandiúva)

Xylopia emarginata (embira-preta)

Espécies secundárias:

Aspidosperma parvifolium (guatambu oliva)

*Chorisia speciosa (paineira-rosa)

Cordia sellowiana (jureté)

Cordia trichotoma (louro-oardo)

*Dendropanax cuneatum (maria-mole)

Didymopanax monototonii (monototó)

*Eriotheca candolleana (catuaba)

Hyeronima alchorneoides (licurana)

Rallinia silvatica (araticum-do-mato)

*Tabebuia impetiginosa (pau-roxo, ipê-roxo)

*Tabebuia vellosi (ipê-amarelo)

Terminalia brasiliensis (merendiba)

Zeyheria tuberculosa (ipê-tabaco)

Espécies Clímax:

Apuleia leiocarpa (grápia)

Aspidosperma ramiflorum (matiambú)

Cabralea canjirana (canjerana)

*Caesalpina echinata (pau-brasil)

*Cariniana legalis (jequitibá-rosa)

Duguetia lanceolata (pindaíva)

Esenbeckia leiocarpa (guarantã)

*Lecythis pisonis (sapucaia)

Ocotea catharinensis (canela-preta)

*Paratecoma peroba (peroba-do-campo)

Peltogyne augustiflora (roxinho, pau-roxo)

Sclerolabium denudatum (tapassuaré)

*Sterculia chicha (chichá)

Swartzia langadorfii (pacova-de-macaco)

Sweetia fruticosa (sucupira-amarela)

*Tabebuia heptaphylla (ipê-roxo)

*Tabebuia serratifolia (ipê-amarelo)

*Xilopia brasiliensis (pindaíba)

Virolla olifera (bocuva)

(A fonte mais importante deste texto é o livro “Árvores Brasileiras” do Eng. Agrônomo Harri Lorenzi. As obras deste autor estão presentes no dia-a-dia de todos os paisagistas. A ele o nosso respeito e admiração.)

Renata Polga