segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O plantio de espécies nativas

Muitas pessoas gostariam de viver a experiência de recuperar uma área degradada, acompanhar a transformação de um descampado em um bosque com árvores nativas, com muitos pássaros e, quem sabe, alguns outros dos nossos animais silvestres...

Em uma escala pequena e sem intenções comerciais é possível plantar bosques nativos a partir de uma orientação básica e alguns cuidados simples de manutenção nos primeiros anos. Para projetos maiores e mais ambiciosos (e que sejam bem-vindos!) é imprescindível o acompanhamento de um profissional, seja agrônomo, seja um paisagista com experiência específica.

Mas como é que a natureza recupera áreas desmatadas? A intenção da natureza é recriar a floresta, em um processo chamado “sucessão secundária”, e que pode levar de 30 a 60 anos. Vamos imaginar uma área devastada pelo fogo e pelo uso do solo para plantio. Se ela ficar abandonada, vão surgir as “ervas daninhas” (herbáceas anuais) durante os 3 primeiros anos; logo em seguida vem as herbáceas perenes e os arbustos perenes. Aqui cabe uma observação: quando um terreno é deixado abandonado, só recebendo uma ou duas capinadas por ano, o que se está fazendo é interromper o processo natural e (para piorar) “criando” ervas-daninhas anuais, cujas sementes serão levadas pelo vento, chuvas e animais para os terrenos, plantações e jardins vizinhos. Por isso é sempre melhor dar algum uso à terra.

Depois de um período em torno de 6 anos começam a surgir certos tipos de árvores, que são denominadas espécies pioneiras. Elas vão continuando o processo de recuperação, crescendo e sombreando a área. Havendo sombreamento suficiente começam à germinar e crescer as espécies secundárias e , terminando o processo, brotam e se desenvolvem as espécies clímaxes.

E de onde surgem essas diferentes espécies? De sementes vindas de florestas próximas, trazidas pelo vento, chuvas ou animais, e também de sementes adormecidas no solo. Quanto mais bosques e florestas existirem, mais fácil e rápida é a regeneração de novas áreas.

Mas o homem pode apressar muito esse processo (e como somos impacientes!), completando-o em 10-15 anos. Podemos plantar de uma só vez quase todas as espécies dos três estágios. Mas atenção quanto às seguintes observações:

 

  1. Coloque as espécies climaxes junto de duas (ou mais) outras mudas das espécies pioneiras e secundárias, que irão se desenvolver mais rápido e criar o sombreamento necessário.
  2. Leve em consideração o porte adulto das plantas, evitando a proximidade entre duas espécies de porte muito grande. De modo geral use um espaçamento de 3m x 4m entre as covas.
  3. É aconselhável adicionar-se fósforo às covas, ou, no caso de solo muito esgotado, material orgânico e outros elementos necessários. Vale a penas fazer uma análise do solo.
  4. Nos primeiros dois ou três anos são necessárias algumas capinas em torno das árvores e eventualmente o combate às formigas. Não faça podas! Deixe as árvores se desenvolverem naturalmente.
  5. Procure diversificar, misturar várias espécies. Se possível, descubra quais espécies são nativas da sua região.

 A seguir uma lista com algumas espécies, divididas segundo o processo de sucessão secundária.

 Eu focalizei as nativas de mata atlântica, por serem as mais pedidas quando o assunto é recuperação de matas. Os nomes com asterisco são daquelas árvores mais comumente conhecidas, para tirar um pouco do aspecto “assustador” de tantos nomes em latim. Entre parêntese, um ou dois (entre muitos...) nomes populares.

Espécies Pioneiras:

 Acácia polyphylla (monjoleiro)

Acrocomia aculeata (macaúba)

Alchornea glandulosa (tapiá)

Alchornea triplinervia (tanheiro)

*Bauhinia forficata (pata-de-vaca)

Casearia sylvestris (guaçatunga)

*Cecropia pachystachya (embaúba)

Croton urucurana (urucurana)

Croton floribundus (capixingui)

Erytrina crista-galli (sananduva)

Guazuma ulmifolia (mutambú)

*Ingá uruguensis (ingá-do-brejo)

*Lithraea moleaides (aroeira branca)

Machaerium aculeatum (pau-de-angú)

Machaerium nyctitans (guaximbé)

Ocotea puberula (guaicá)

*Psidium guajava (goiaba-branca)

Rapanea ferruginea (azeitona do mato)

Schinus terebinthifolius (aroeira-mansa)

Schizolebium parahyba (guapuruvu)

Sebastiania commersoniana (branquilho)

*Senna multijuga (pau-cigarra; canafístula)

Tapirira guianensis (fruta-de-pombo)

*Tibouchina mutabilis (manacá-da-serra)

Trema micrantha (grandiúva)

Xylopia emarginata (embira-preta)

Espécies secundárias:

Aspidosperma parvifolium (guatambu oliva)

*Chorisia speciosa (paineira-rosa)

Cordia sellowiana (jureté)

Cordia trichotoma (louro-oardo)

*Dendropanax cuneatum (maria-mole)

Didymopanax monototonii (monototó)

*Eriotheca candolleana (catuaba)

Hyeronima alchorneoides (licurana)

Rallinia silvatica (araticum-do-mato)

*Tabebuia impetiginosa (pau-roxo, ipê-roxo)

*Tabebuia vellosi (ipê-amarelo)

Terminalia brasiliensis (merendiba)

Zeyheria tuberculosa (ipê-tabaco)

Espécies Clímax:

Apuleia leiocarpa (grápia)

Aspidosperma ramiflorum (matiambú)

Cabralea canjirana (canjerana)

*Caesalpina echinata (pau-brasil)

*Cariniana legalis (jequitibá-rosa)

Duguetia lanceolata (pindaíva)

Esenbeckia leiocarpa (guarantã)

*Lecythis pisonis (sapucaia)

Ocotea catharinensis (canela-preta)

*Paratecoma peroba (peroba-do-campo)

Peltogyne augustiflora (roxinho, pau-roxo)

Sclerolabium denudatum (tapassuaré)

*Sterculia chicha (chichá)

Swartzia langadorfii (pacova-de-macaco)

Sweetia fruticosa (sucupira-amarela)

*Tabebuia heptaphylla (ipê-roxo)

*Tabebuia serratifolia (ipê-amarelo)

*Xilopia brasiliensis (pindaíba)

Virolla olifera (bocuva)

(A fonte mais importante deste texto é o livro “Árvores Brasileiras” do Eng. Agrônomo Harri Lorenzi. As obras deste autor estão presentes no dia-a-dia de todos os paisagistas. A ele o nosso respeito e admiração.)

Renata Polga 

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